O setor de transportes consome 27% da energia do mundo e 60% de todo o petróleo. Considerado um dos principais responsáveis pelas mudanças climáticas, terá de se reinventar para que o planeta esquente no máximo 2ºC neste século, conforme previsto pelo Acordo de Paris.
A boa notícia é que a tecnologia para “limpar” o setor já existe: veículos elétricos, gás natural, satélites, GPS e outras ferramentas podem melhorar o planejamento do trânsito nas grandes cidades. Na América Latina, o Banco Mundial aponta progressos, mas alerta que ainda falta muito para essas tecnologias e respostas sustentáveis se tornarem uma realidade hegemônica.
Entre 2007 e 2014, a oferta de pistas em que o transporte coletivo tem prioridade passou de 1,049km a 2.083km, um aumento de quase 100%, de acordo com um estudo da Corporação Andina de Fomento (CAF) feita em 29 regiões metropolitanas da América Latina. No entanto, o documento conclui que as atuais condições de mobilidade nas áreas estudadas são inadequadas para a maioria da população.
Oitenta porcento da população latino-americana vive em zonas urbanas. Nos últimos seis anos, um quadro de desaceleração econômica generalizada na região prejudicou os orçamentos locais e os investimentos em infraestrutura.
Mesmo assim, surgiram soluções inovadoras para diminuir a poluição do setor de transportes. Uma delas mudou o cenário de Fortaleza, no Ceará.
Nas palavras do ex-secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Luiz Sabóia, a capital “tem tantos problemas que muita gente ainda não se preocupa com desenvolvimento sustentável”. Isso não impediu a cidade de desenvolver dois mapas de emissões de gases do efeito estufa liberados por transportes. O município também estabeleceu um objetivo de reduções para o setor: 20% até 2030.
Para bater a meta, Fortaleza apostou em medidas de baixo custo, como a criação de ciclovias — atualmente são 199km de pistas para bicicletas — e faixas exclusivas para ônibus — que já se estendem por 98km.
“Houve certa resistência quando destinamos uma das pistas da principal avenida da cidade só para ônibus, mas tanta gente usa esse meio de transporte que foi melhor alocar 25% do espaço para tal fim”, afirma Sabóia.
Outra ideia foi criar programas de compartilhamento de bicicletas e carros elétricos. Vinte automóveis foram colocados à disposição da população.
As iniciativas de Fortaleza foram apresentadas no evento Transformando o Transporte, em Washington. O encontro ocorreu em janeiro e foi promovido pelo Banco Mundial e pelo World Resources Institute. No fórum, também foram discutidas as experiências de Bogotá e Buenos Aires para “limpar” o setor de transportes.
Bogotá e Buenos Aires também são exemplo
Bogotá passou a dedicar quase metade de seu orçamento para o setor de transportes no último ano. “Desse total, 80% vão para os transportes de massa, sustentáveis”, detalhou o secretário de Mobilidade, Juan Pablo Bocarejo.
Apesar de dispor de um dos sistemas de BRT mais usados do mundo — o “Transmilênio” — e de ser uma cidade onde apenas 16% dos deslocamentos são feitos por meios de transporte individuais, a capital colombiana ainda sofre com engarrafamentos e poluição.
Para contornar os problemas, a cidade se viu obrigada a adotar medidas como o rodízio — que diariamente tira metade dos carros de circulação — e o fechamento de ruas para pedestres e ciclistas.
Outra estratégia foi desenvolver novos projetos para desafogar as pistas. “Nosso plano é fazer com que 80% da população viva a menos de 1km do transporte público”, acrescentou Bocarejo.
Parte da solução está na construção do metrô de Bogotá, que começará em 2018 e será um dos quatro projetos em curso na América Latina. Atualmente, 19 cidades latino-americanas contam com redes subterrâneas de trens.
Em Buenos Aires, a região metropolitana conta com quase 13 milhões de habitantes. Para se locomoverem, o meio mais usado é o ônibus: 80% dos trajetos são feitos assim, e 18 mil ônibus fazem o transporte da população.
“Em um período de 9 a 12 meses, começarão a circular 50 ônibus elétricos, que exigirão ajustes em termos de infraestrutura e operações do sistema”, comentou López. “Também queremos melhorar a rede de trens para fazer com que mais pessoas usem”, informou a secretária de Obras, Manuela López Menendez no evento do Banco Mundial. “Também queremos melhorar a rede de trens para fazer com que mais pessoas usem.”
A especialista do organismo financeiro em transportes, Maria Cordeiro, explica que “implementar uma tecnologia não significa que a mobilidade urbana será automaticamente sustentável”. “O desafio de mudar para tecnologias limpas será menor se os sistemas de transporte como um todo forem mais eficientes.”
Um país que invista em ônibus movidos a gás natural, mas não tenha acesso fácil a esse recurso, pode acabar produzindo ainda mais emissões de carbono. Já as prefeituras que optarem por veículos movidos a bateria precisarão entender e planejar bem como eles se conectarão à rede elétrica da cidade, de modo a não haver sobrecarga, por exemplo.
Fonte: ONU Brasil