Foto: Ana Branco / Agência O Globo |
Os galopantes avanços tecnológicos e comportamentais dos últimos 20 anos têm complicado a vida de adivinhos e futurólogos. Diversas previsões - manifestadas com a serena certeza de quem anuncia mudanças inevitáveis - caíram rapidamente por terra. Acreditou-se, por exemplo, que a inclusão digital seria feita por meio de computadores. Em virtude desse prognóstico, que parecia incontornável há não mais do que 15 anos, a indústria de equipamentos eletrônicos fez investimentos para desenvolver "notebooks" de preços acessíveis a camadas populares. Governos de muitos países compraram lotes de máquinas e as espalharam por escolas.
Essa profecia, no entanto, estava furada. Quem efetivamente promoveu a inclusão digital, atingindo todos os níveis sociais, foram os telefones celulares - mais baratos e tecnologicamente amistosos do que os computadores (de mesa, hoje caminhando para se tornarem dinossauros de uso bem localizado, ou portáteis). Discos rígidos com imensa capacidade de armazenamento também pareceram algo indispensável à vida no século 21, e houve então uma corrida para oferecê-los aos consumidores - cada um de nós, de acordo com essa previsão, precisaria ter seus próprios Terabytes em casa para guardar textos, fotos e outros materiais.
Veio então o conceito de "nuvem" - o armazenamento remoto de informações - e lá se foi o fetiche do disco rígido. Mais recentemente, o "tablet" exerceu o papel de máquina da vez, canalizando, no campo da educação, investimentos de governos e de produtores de conteúdo. A ideia recorrente de que uma tela pode tornar a sala de aula mais sedutora e produtiva - primeiro aplicada a retroprojetores e projetores de slides, depois a televisões e a data shows - transferiu-se para essa espécie de novo messias da aprendizagem. Um "tablet" por aluno, muitos passaram a sugerir, e assim a escola caminhará, impávido colosso, para o século 22.
Não é, contudo, o que pensam hoje os grandes conglomerados que lidam com o consumo de informações. Em abril, um simpósio internacional de jornalismo on-line promovido na Universidade de Austin (Texas, EUA) elegeu "mobile" - termo em inglês para se referir a aparelhos portáteis, principalmente "smartphones" - como a palavra de ordem para quem deseja sobreviver no negócio da comunicação. Os celulares, de acordo com análises do atual cenário, se consagraram como a tela preferencial na vida das pessoas; eles interferem no cotidiano muito mais do que qualquer outro dispositivo.
Dado apresentado no simpósio por uma representante do Google: as crianças e adolescentes nascidos no século 21 acionam o celular, em média, 150 vezes ao dia. Para eles, não faz mais sentido a expressão "entrar no on-line", ou seja, fazer a conexão com o mundo virtual. Eles vivem on-line - não saem dali jamais. O celular se tornou uma extensão de seu corpo e passou a determinar o modo como se relacionam com os outros, com as informações e, portanto, com o mundo. Entender esse fenômeno e suas decorrências ajuda a evitar a tentação de apostar nas previsões de ontem como se elas ainda valessem para amanhã.
Fonte: Revista Escola Pública
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