sábado, 7 de novembro de 2015

Jovem que jogou dólares em Cunha: “Não vamos descansar até ele cair”



A repressão contra os jovens foi truculenta /Foto: Levante Popular da Juventude
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), passou por um momento inusitado na tarde desta quarta-feira 4. Durante uma entrevista coletiva à imprensa em Brasília, o parlamentar foi surpreendido por uma chuva de dólares falsos com seu rosto impresso. A ação fez parte de ações do Levante Popular da Juventude em 16 cidades pelo país.

A reportagem conversou com os militantes do Levante Carla Bueno e Thiago Pará, que também é secretário-geral da União Nacional dos Estudantes (UNE). Eles foram detidos após a intervenção dos dólares em cima de Cunha -- que remetia às contas do deputado em bancos na Suíça, que somam 2,4 milhões de dólares não declarados e foram reveladas recentemente pelo Ministério Público do país europeu. 

Por que realizar essa ação contra o Cunha?

Carla - Achamos importante dar visibilidade ao tema, que passa muitas vezes como mais um esquema de corrupção. Não é mais um esquema, é algo muito profissional, e mostra que precisamos derrubar o presidente da Câmara.

Thiago - Fizemos a ação para chamar a atenção da sociedade e romper o cerco da mídia conservadora, levando a mensagem de que no dia 13 de novembro teremos um grande ato pelo “Fora Cunha”. Além de representar o que há de pior na política brasileira do ponto de vista ético, das denúncias dos cinco milhões de dólares em contas secretas na Suíça, do envolvimento na corrupção da Petrobrás, Eduardo Cunha também lidera a bancada que visa retirar direitos dos jovens, dos negros, das mulheres, dos indígenas conquistados nos últimos anos.

Por que vocês fizeram a ação?

Thiago - O ato das mulheres [na semana passada] foi o início destas ações que pedem a saída de Cunha. Em nossa organização iniciamos essas ações na segunda-feira 2 com um escracho na porta da residência oficial dele.

Carla - Todo mundo está insatisfeito e não se sente representado por esse presidente da Câmara, só que não tem ferramentas para se mobilizar. Então estamos propondo momentos de mobilização para que as pessoas interfiram na política brasileira.
Ações realizadas por militantes do movimento em 16 cidades pelo país

Além das denúncias de corrupção, os atos expõem as pautas conservadoras aprovadas por Cunha...

Carla - Com o acirramento da luta social que estamos vivendo, essas pautas conservadoras ganham um relevo maior. Ele está tentando retirar a toque de caixa uma série de direitos civis e direitos humanos conquistados pelas mulheres e pela juventude.

E ele faz isso usando métodos autoritários na Câmara dos deputados, e só se sustenta por uma relação de poder e corrupção que envolve muito poder e muitos favores, que não é o tipo de política que representa os brasileiros e brasileiras.

Esses projetos de lei, em especial o 5069, que ataca os direitos das mulheres ao acesso à pílula do dia seguinte e ataca o aborto legal em casos de estupro, mostra que temos de agir. A mulherada tem que se mobilizar mesmo, e nós do Levante estamos juntas nesse tema.

Thiago - A juventude está desacreditada da política feita nos gabinetes aqui em Brasília, esse é um primeiro ponto. Precisamos reinventar a forma de fazer política, consequente, criativa e animada. O Eduardo Cunha tem se transformado em símbolo do conservadorismo.

Boa parte dos jovens é contrária a esse tipo de política que restringe o direito ao aborto legal e aos métodos anticoncepcionais e a redução da maioridade penal, dentre outros pontos. Ele é o rosto do conservadorismo que cresce na sociedade. E a juventude tem que assumir pra si a tarefa de conter o avanço desse conservadorismo, dependemos disso para sobreviver.


Por que vocês foram detidos?

Carla - São dois pesos e duas medidas. Tinha tido confusão e quebra-quebra mais cedo por conta de uma manifestação da direita. Mas nesse caso os seguranças e a polícia parlamentar não agiram. Como a nossa manifestação foi de esquerda e contra o presidente da Câmara, veio a repressão truculenta. Nos manifestamos jogando papel pro ar, e o Thiago gritou para o Cunha que ali estava a encomenda dele da Suíça. Só isso. Em três segundos chegaram dois policiais truculentos e arrastaram o Thiago para dentro do Depol. Fui acompanhando ele, e acabei sendo detida também.

Thiago - Alguns minutos antes de nossa intervenção houve uma confusão de alguns manifestantes pró-impeachment [da presidenta Dilma] que estavam em um canto da Câmara dos Deputados. Nessa confusão anterior, ocorreram agressões físicas e verbais. Os seguranças nada fizeram, foram coniventes. Não houve qualquer tipo de ação, ninguém foi detido.

Em nosso caso, um minuto após a intervenção, eu e Carla [Buenos] fomos levados de forma truculenta para a Delegacia de Polícia Legislativa, a mando do próprio Eduardo Cunha. Lá nós levamos um chá de cadeira e não pudemos receber nosso advogado, só depois que outros parlamentares chegaram e pressionaram a polícia que nossa advogada pode entrar e nos trazer as orientações. 

Interferiram na ação de vocês...

Carla - Isso é importante esclarecer. Eles gritaram “fora PT” porque pensaram que nossa ação era pró governo. Não se tratava disso. Nosso foco é no maior inimigo da política brasileira hoje, que é o Eduardo Cunha. Mas para essas pessoas política é ser a favor ou contra o governo, por isso se manifestaram contra nós.

A direita se manifesta contra corrupção, mas apoia Cunha

Se diziam contra a corrupção...

Carla - Sim. A direita que está lá ignora as provas contra o Cunha e aplaudem ele quando ele passa perto deles. Eles tem uma concepção estranha do que é corrupção.

Cunha disse que era "militância contratada” para agredir e intimidar.

Thiago - Diferentemente dele, não temos qualquer tipo de esquema para garantir milhões de dólares para financiar qualquer atividade. Fazemos parte de um movimento social de jovens que tem uma política de autossustentação, fazendo rifas, festas, contribuindo individualmente. A declaração do Cunha não passa de uma tentativa de desqualificar nossa ação.

E quais serão as próximas ações? Vocês ficaram intimidados?...

Thiago - Quem ficou intimidado foi o próprio Eduardo Cunha. Prova disso foi a expressão dele no momento em que jogamos os dólares falsos e também a reação dele de nos enviar de forma truculenta para a delegacia.

Vamos seguir nas ruas contra Eduardo Cunha, não vamos descansar enquanto ele não sair da presidência da Câmara e tiver seu mandato cassado. Já estamos organizando outras ações até o dia 13 de novembro, quando faremos um ato nacional pedindo a cassação do atual presidente da Câmara.

*Reportagem publicada originalmente no Brasil de Fato.

Fonte: Carta Capital

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