terça-feira, 15 de março de 2016

Estudo sobre percepção da insegurança será apresentado em Nova York por professor da UFC


Um estudo desenvolvido em coautoria por um professor da Universidade Federal do Ceará e um ex-aluno do Programa de Pós-Graduação em Economia (CAEN-UFC) foi selecionado para participar do workshop “Subjective Expectations”, promovido pelo Federal Reserve Bank of New York (FED-NY) e pelo ESRC Research Centre on Micro-Social Change, da Universidade de Essex, no Reino Unido. O evento ocorre nos dias 12 e 13 de maio, em Nova York, Estados Unidos. Na ocasião, o Prof. José Raimundo Carvalho, do CAEN, apresentará o artigo científico intitulado “Modeling Bayesian Updating with many Non-Updaters: the Case of Own Subjective Homicide Victimization Risk” (Modelando atualização bayesiana com muitos não atualizadores: o caso do próprio risco subjetivo de vitimização por homicídio).

O artigo, oriundo da dissertação do ex-estudante da UFC Yuri Costa (que hoje cursa doutorado em Toulouse, na França), aborda a percepção que as pessoas têm sobre a violência. O principal resultado é a constatação de que pessoas comuns sobrevalorizam a probabilidade de serem vítimas de homicídios e mantêm essa impressão mesmo após serem confrontadas com as taxas reais de homicídios em Fortaleza – em geral, as taxas reais são menores do que aquelas percebidas pelos indivíduos.

Para a pesquisa, foram entrevistadas 4 mil pessoas em Fortaleza, há cerca de três anos. Primeiramente, os pesquisadores perguntavam ao entrevistado sua opinião sobre a probabilidade de ser vítima de um homicídio em determinado período de tempo. Após a resposta, o entrevistado era informado sobre a verdadeira probabilidade (em geral, mais baixa que a citada na primeira resposta) de sofrer homicídio. Em seguida, os pesquisadores interrogaram se a pessoa gostaria de atualizar (up date) sua primeira avaliação. Mais de 80% dos entrevistados preferiram não mudar de opinião. 

“Nosso grande interesse é saber como as pessoas processam informações novas, especialmente sobre as taxas de homicídio. Nosso resultado foi simples e muito contundente: a maioria das pessoas sobreavalia o risco de ser vítima da violência. Tivemos uma grande quantidade de céticos (os que preferem não mudar a opinião). É um fenômeno psicológico ao qual estão relacionados vários fatores, como sociais e econômicos”, explica o Prof. José Raimundo.

Para conciliar esse comportamento aparentemente contraditório, o artigo lançou mão de uma abordagem multidisciplinar (Econometria, Estatística e Teoria da Informação), onde, fundamentalmente, buscou-se racionalizar a decisão de não revisar probabilidades subjetivas seguindo um argumento de qualidade/credibilidade da informação percebida. Em outras palavras, a pesquisa mostra que as pessoas que não revisam suas probabilidades subjetivas, chamados pelos autores de céticos, não o fazem porque racionalmente avaliam o teor de determinada informação como irrelevante.

O Prof. Carvalho ressalta, porém, que algumas questões interferem na reação das pessoas entrevistadas, como, por exemplo, o conhecimento prévio dos fatores do problema e a credibilidade da fonte que repassa aos indivíduos a nova informação. O estudo mostrou também que a sobrevalorização da probabilidade de homicídios é maior entre mulheres e idosos. Outra constatação é que, quando o emissor da informação é do mesmo sexo do receptor, a tendência ao “convencimento” é maior.

SEQUÊNCIA – O Prof. Carvalho destaca que mais pesquisas sobre essa temática estão sendo desenvolvidas, inclusive em parceria com instituições de outros países. "Para muitas pessoas o que mais conta é a impressão, a sensação de insegurança, o medo. Então elas deixam de fazer muita coisa pelo medo que têm de sofrer um roubo ou um homicídio. Essa percepção precisa ser levada em conta pelos governos na divulgação das taxas de homicídio e ser inserida na formulação das políticas públicas de segurança", defende o professor. Ele acrescenta que o resultado da pesquisa vai ao encontro de levantamentos semelhantes realizados em várias cidades pelo mundo, e que a participação em um evento mundial insere a UFC no debate, contribuindo para o processo de internacionalização da Universidade. Veja a íntegra do artigo, em inglês.

SOBRE O EVENTO – O encontro em Nova York reúne especialistas mundiais nas áreas de Economia e Psicologia, que se dedicam a pesquisas sobre modelagem subjetiva e probabilidade. Veja a programação do evento.

Fonte: Portal da UFC

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