O Papa presidiu na manhã desta quarta-feira (29/06), à Missa da Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo – padroeiros de Roma.
Como é tradição nesta celebração, o Pontífice abençoou os pálios dos novos arcebispos metropolitanos – dentre eles, quatro brasileiros – que serão impostos pelos Núncios Apostólicos nas respectivas arquidioceses.
Em sua homilia, o Papa recordou episódios decisivos e fundamentais da vida dos Apóstolos e da comunidade cristã para superar seus próprios egoísmos, medos e fechamentos. Confira na íntegra:
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Nesta liturgia, a Palavra de Deus gira em torno de um binômio central: fechamento/abertura.
E, relacionado com esta imagem, também está o símbolo das chaves, que Jesus promete a Simão Pedro para que ele possa, sem dúvida, abrir às pessoas a entrada no Reino dos Céus, e não fechá-la como faziam alguns escribas e fariseus hipócritas que Jesus censura (cf. Mt 23, 13).
A leitura dos Atos dos Apóstolos (12, 1-11) apresenta-nos três fechamentos: o de Pedro na prisão; o da comunidade reunida em oração; e – no contexto próximo da nossa perícope – o da casa de Maria, mãe de João chamado Marcos, a cuja porta foi bater Pedro depois de ter sido libertado.
E vemos que a principal via de saída dos fechamentos é a oração: via de saída para a comunidade, que corre o risco de se fechar em si mesma por causa da perseguição e do medo; via de saída para Pedro que, já no início da missão que o Senhor lhe confiara, é lançado na prisão por Herodes e corre o risco de ser condenado à morte.
Enquanto Pedro estava na prisão, “a Igreja orava a Deus, instantemente, por ele” (At 12, 5). E o Senhor responde à oração com o envio do seu anjo para o libertar, “arrancando-o das mãos de Herodes” (cf. v. 11).
A oração, como humilde entrega a Deus e à sua santa vontade, é sempre a via de saída dos nossos fechamentos pessoais e comunitários.
O próprio Paulo, ao escrever a Timóteo, fala da sua experiência de libertação, de saída do perigo de ser ele também condenado à morte; mas o Senhor esteve ao seu lado e deu-lhe força para poder levar a bom termo a sua obra de evangelização dos gentios (cf. 2 Tm 4, 17).
Entretanto, Paulo fala de uma “abertura” muito maior, para um horizonte infinitamente mais amplo: o da vida eterna, que o espera depois de ter concluído a “corrida” terrena.
Assim é belo ver a vida do Apóstolo toda “em saída” por causa do Evangelho: toda projetada para a frente, primeiro, para levar Cristo àqueles que não O conhecem e, depois, para se lançar, por assim dizer, nos seus braços e ser levado por Ele “a salvo para o seu Reino celeste”(v. 18).
Mas voltemos a Pedro… A narração evangélica (Mt 16, 13-19) da sua confissão de fé e consequente missão a ele confiada por Jesus mostra-nos que a vida do pescador galileu Simão – como a vida de cada um de nós – se abre, desabrocha plenamente quando acolhe, de Deus Pai, a graça da fé.
E Simão põe-se a caminhar – um caminho longo e duro – que o levará a sair de si mesmo, das suas seguranças humanas, sobretudo do seu orgulho misturado com uma certa coragem e altruísmo generoso.
Decisiva neste seu percurso de libertação é a oração de Jesus: “Eu roguei por ti [Simão], para que a tua fé não desapareça” (Lc 22, 32). E igualmente decisivo é o olhar cheio de compaixão do Senhor depois que Pedro O negou três vezes: um olhar que toca o coração e liberta as lágrimas do arrependimento (cf. Lc 22, 61-62).
Então Simão Pedro foi liberto da prisão do próprio eu orgulhoso e medroso, e superou a tentação de se fechar à chamada de Jesus para O seguir no caminho da cruz.
Como já aludi, no contexto próximo da passagem lida dos Atos dos Apóstolos, há um detalhe que pode fazer-nos bem considerar (cf. 12, 12-17).
Quando Pedro, miraculosamente liberto, se vê fora da prisão de Herodes, vai à casa da mãe de João chamado Marcos. Bate à porta e, de dentro, vem atender uma empregada chamada Rode que, tendo reconhecido a voz de Pedro, em vez de abrir a porta, incrédula e cheia de alegria, corre a informar a patroa.
A narração, que pode parecer cômica, deixa intuir o clima de medo em que estava a comunidade cristã, fechada em casa e fechada também às surpresas de Deus. Este detalhe fala-nos de uma tentação que sempre existe na Igreja: a tentação de fechar-se em si mesma, à vista dos perigos.
Mas mesmo aqui há uma brecha por onde pode passar a ação de Deus: Lucas diz que, naquela casa, “numerosos fiéis estavam reunidos a orar” (v. 12).
A oração permite que a graça abra uma via de saída: do fechamento à abertura, do medo à coragem, da tristeza à alegria. E podemos acrescentar: da divisão à unidade.
Sim, digamos hoje com confiança, juntamente com os nossos irmãos da Delegação enviada pelo amado Patriarca Ecumênico Bartolomeu para participar na festa dos Santos Padroeiros de Roma.
Uma festa de comunhão para toda a Igreja, como põe em evidência também a presença dos Arcebispos Metropolitanos que vieram para a bênção dos Pálios, que lhes serão impostos pelos meus representantes nas respectivas arquidioceses.
Os Santos Pedro e Paulo intercedam por nós para podermos realizar com alegria este caminho, experimentar a ação libertadora de Deus e a todos dar testemunho dela.
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Fonte: Rádio Vaticano
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