“Precisamos de misericórdia, da consolação que vem do Senhor. Todos nós precisamos dela; é a nossa pobreza, mas também a nossa grandeza: invocar a consolação de Deus, que, com a sua ternura, vem enxugar as lágrimas do nosso rosto.”
Foi o que disse o Papa Francisco na Vigília “para enxugar as lágrimas” daqueles que têm necessidade de consolação, celebrada na tarde desta quinta-feira (05/05) na Basílica de São Pedro. Inserida no âmbito do Jubileu da Misericórdia, a Vigília foi dedicada aos que sofrem no corpo e na alma. Orações e histórias de vida, banhadas por lágrimas e enxugadas pela fé, marcaram a Vigília para expressar a obra de misericórdia espiritual “consolar os aflitos”.
Após a leitura dos textos bíblicos propostos pela liturgia, intercaladas com alguns testemunhos, o Santo Padre fez a meditação da Vigília, durante a qual esteve exposta para a veneração dos fiéis um Relicário de Nossa Senhora das Lágrimas de Siracusa, para pedir a materna proteção de Maria no mês a ela dedicado.
O Pontífice começou invocando a presença do Espírito Santo:
“Seja Ele a iluminar a nossa mente, a encontrar as palavras certas e capazes de proporcionar conforto; seja Ele a abrir o nosso coração, para ter a certeza da presença de Deus que não nos abandona na provação”, exortou.
“Nos momentos de tristeza, na tribulação da doença, na angústia da perseguição e na desolação do luto, cada um de nós procura uma palavra de consolação”, disse Francisco, acrescentando que temos grande necessidade de alguém que esteja ao nosso lado e sinta compaixão por nós.
Descrevendo o sentimento de desolação com que muitas vezes vivemos os momentos da dor e do sofrimento, o Papa disse que “a razão, sozinha, não é capaz de iluminar o nosso íntimo, compreender a dor que sentimos e dar a resposta que esperamos”. Nestes momentos, observou, “temos mais necessidade das razões do coração, as únicas capazes de nos fazerem entender o mistério que envolve a nossa solidão”.
Recordando as tantas lágrimas derramadas em cada instante, no mundo, Francisco acrescentou que, diferente uma da outra, juntas, elas “formam como que um oceano de desolação, que invoca piedade, compaixão, consolação”. Após afirmar que “as mais amargas são as lágrimas causadas pela maldade humana”, o Papa enfatizou-as:
“As lágrimas de quem viu arrancar-lhe violentamente uma pessoa querida; lágrimas de avós, de mães e pais, de crianças… Há olhos que muitas vezes param fixos no pôr-do-sol e têm dificuldade em ver a alvorada de um novo dia.”
Nesta dor, não estamos sozinhos, “também Jesus sabe o que significa chorar pela perda duma pessoa amada”, acrescentou Francisco, lembrando uma das páginas mais comoventes do Evangelho, na qual Jesus chorou pela morte do amigo Lázaro.
O Santo Padre frisou que com esta passagem do Evangelho narrada por João, o evangelista quer mostrar comoJesus toma parte na tristeza dos seus amigos e se Se solidariza com o seu desconforto. Jesus “não abandona aqueles que ama”, disse, citando Santo Agostinho.
“Se Deus chorou, também eu posso chorar, ciente de que sou compreendido. O pranto de Jesus é o antídoto contra a indiferença face ao sofrimento dos meus irmãos. Aquele pranto ensina-me a assumir a dor dos outros, a tornar-me participante do incômodo e do sofrimento de quantos vivem nas situações mais dolorosas. Mexe comigo para fazer-me perceber a tristeza e o desespero de quantos viram até roubar-lhes o corpo dos seus entes queridos, e já não têm sequer um lugar onde possam encontrar consolação.”
“O pranto de Jesus não pode ficar sem resposta por parte de quem acredita n’Ele. Como Ele consola, assim somos chamados nós a consolar”, exortou Francisco.
O Papa lembrou que no momento do pavor, da comoção e do pranto, surge no coração de Cristo a oração ao Pai e frisou que “a oração é o verdadeiro remédio para o nosso sofrimento”. Na oração, disse ainda, “também nós podemos sentir a presença de Deus ao nosso lado”.
“A ternura do seu olhar consola-nos, a força da sua palavra sustenta-nos, incutindo esperança.” Precisamos de ter esta certeza:
“O Pai escuta-nos e vem em nosso auxílio. O amor de Deus, derramado nos nossos corações, permite-nos dizer que, quando se ama, nada e ninguém jamais poderá separar-nos das pessoas que amamos. Assim no-lo recorda, com palavras de grande consolação, o apóstolo Paulo: ‘Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?’”
“A força do amor transforma o sofrimento na certeza da vitória de Cristo e nossa, com Ele, e na esperança de que um dia estaremos juntos de novo e contemplaremos para sempre o rosto da Santíssima Trindade, fonte eterna da vida e do amor”, concluiu o Papa, lembrando que “junto de cada cruz, está sempre a Mãe de Jesus. Com o seu manto, Ela enxuga as nossas lágrimas. Com a sua mão, faz-nos levantar e acompanha-nos pelo caminho da esperança”.
Fonte: Rádio Vaticano
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