Tudo começou com o índio kariri José Lourenço da Silva, que com suas cabaças resolveu criar um grupo musical. Sua característica diferenciada, que salta aos olhos a cada apresentação, surgiu ainda no século 19. Toda a família se envolveu no trabalho, e a tradição foi passada de pai para filho três vezes. Neste mês, a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto completa longos 200 anos de atividade.
O nome da banda vem do tempo de José Lourenço, o Aniceto. Na época, a zabumba era feita da cabaça da roça. A terra natal dos Irmãos Aniceto é o Crato, mas a cultura da família já é conhecida em todo o Brasil e até na Europa. Em sua quarta geração, o grupo resiste e mantém a tradição.
A renda principal da família vem da agricultura, e quando a época não está boa para a colheita eles intensificam a rotina de apresentações para complementar o orçamento. Os filhos e netos aprendem a tocar e fabricar os instrumentos ainda criança, para quando for necessário substituir algum dos membros já estar preparado.
O grupo já percorreu quase todos os estados brasileiros, além de ir duas vezes à França e Portugal. Ainda este ano, já possui uma apresentação na Turquia agendada. As músicas são autorais, mas há também algumas homenagens durante os shows. O figurino, que chama atenção do público, também é feito pela banda.
Iniciada em 1815 com os índios kariri, o membro mais antigo ainda vivo, o Aniceto, faleceu em janeiro, com seus 104 anos de idade, mas seu legado perdura nas mãos e vozes de seus descendentes. “Pouco antes de morrer, ele disse que quando partisse dessa terra os filhos deveriam dar continuidade à banda, pois ela iria ser uma grande alegria do Brasil”, relembra o neto Adriano Pereira da Silva. Dos seis filhos que Aniceto deixou, o único vivo é Mestre Raimundo José da Silva, o caçula, de 86 anos. Ele e os netos de Aniceto compõem a atual banda.
A formação atual é composta por José Joval dos Santos Silva (pratos), Adriano Pereira da Silva (zabumba e contra-mestre), Mestre Raimundo José da Silva e Antônio José Lourenço da Silva (pifes), Cícero dos Santos Silva e Cícero Pereira da Silva (caixa). Famosa, a banda já participou de filmes e documentários valorizando a cultura. Em 2004, um dos membros, Mestre Raimundo Aniceto, foi reconhecido pela Secretaria de Cultura do Ceará como Mestre da Cultura Tradicional Popular.
Em junho, devido à tradicional festa de São João, a rotina de shows se intensifica. Aliado a isso, os 200 anos dos Irmãos Ancieto também são motivos para comemoração. “Por onde a gente anda, o nosso trabalho é aceito. É cultura viva, o público fica muito alegre, isso é muito bom. Tocar e ver que as pessoas ficam felizes é uma coisa linda, meu avô deve estar muito feliz”, comemora o contra-mestre Adriano Pereira da Silva.
Fonte: Tribuna do Ceará
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