terça-feira, 17 de novembro de 2015

Cientistas criam grupo para análises independentes da tragédia em Mariana



A lama que corre por Minas Gerais e Espírito Santo é tóxica? Qual o impacto real na fauna e na flora da região? Qual a qualidade da água? Quem deve responder legalmente pelo desastre? São muitas as perguntas em torno da catástrofe provocada pelo rompimento das barragens em Mariana e poucas as fontes confiáveis. Para tentar achar respostas livres de interesses privados ou tendenciosas, um grupo de pesquisadores e cientistas decidiu fazer uma avaliação independente dos impactos ambientais.

As conversas começaram entre amigos –eram dez pesquisadores que acreditaram que precisavam fazer mais do que só comentar sobre a tragédia. Mas logo a iniciativa tomou enormes proporções. Hoje, o projeto conta com uma página no Facebook com mais de 3.500 inscritos e um crowdfunding, financiamento coletivo, que já arrecadou mais de R$ 27 mil.

Alexandre Martensen, biólogo que ajuda na coordenação do estudo enquanto faz doutorado na Universidade de Toronto

Os primeiros pesquisadores do grupo, batizado de Giaia (Grupo Independente para Análise do Impacto Ambiental), foram até Mariana com recursos próprios ou com apoio de universidades. Depois moradores e voluntários de diversas áreas se juntaram.

“Não tínhamos ideia das proporções que alcançaríamos. A proposta era conseguir juntar R$ 50 mil para financiar análises do solo e da água, para ver como a lama de fato afetou a região. Mas o número de voluntários foi tamanho que agora há diversos subgrupos para estudos das mais variadas vertentes”, conta Martensen.

Advogados voluntários estão analisando a parte legal da catástrofe, enquanto moradores auxiliam na coleta de amostras. Pesquisadores colaboram cedendo estudos sobre a região ou oferecendo novas análises aprofundadas da fauna e da flora.

O Giaia planeja colocar em um site todos os estudos, publicados de maneira que qualquer leigo consiga compreender os resultados. As informações estarão disponíveis em detalhes, com a origem da amostras analisadas, quem as colheu, quando e qual o laboratório responsável pela análise.

“Junto com a tragédia veio uma enxurrada de informação e não sabíamos quem tinha razão na análise de dados”, explicou Martensen. “Por exemplo, há quem acredite que o rio pode diluir a lama e voltar a viver, há quem diga que ele está morto. Não compramos nenhuma resposta, mas incentivamos os estudos para compreender a situação.”

O grupo conseguiu amostras da água e do solo limpos, antes de a lama alcançar a foz do rio, e por isso será capaz de fazer diversos estudos comparando o antes e depois. As amostras serão encaminhadas para diferentes laboratórios para garantir resultados precisos dos danos na bacia do rio Doce. “Sem vínculos com empresas, queremos divulgar os resultados sem interesses subjetivos”, ressalta o biólogo.

O projeto animou a comunidade científica. Além de criar um grande acervo de pesquisa capaz de viabilizar respostas claras sobre o acidente, o projeto abre portas para estudos futuros.

Fonte: UOL

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