segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

2017: O duelo entre a democracia e a ditadura

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O Sociólogo e cientista político brasileiro, Emir Sader, publicou no último sábado (24), na sua coluna do site Brasil 247, uma previsão realista do senário que se monta no país para o ano de 2017. Vejamos então:

Em 2016, o Brasil sofreu a interrupção da democracia instaurada com o fim da ditadura militar. Golpistas assaltaram o governo, derrubaram a presidente reeleita pelo voto popular. Pretendiam impor uma dura e desmoralizante derrota ao movimento popular, que o deixaria fora de ação por muito tempo. Não conseguiram. Infringiram um duro golpe à democracia, a feriram, mas não de morte.

A disputa decisiva entre a democracia e a ditadura vai ter em 2017 seu grande cenário. Há um movimento de consolidação do golpe e do regime de exceção que ele instaura, terminando com as perspectivas democráticas no país por muito tempo. Sua sustentação se dá pela continuidade da política selvagem de destruição dos avanços sociais conseguidos neste século, no desmonte do patrimônio publico, na expropriação dos direitos básicos dos trabalhadores, no fim da política externa soberana.

Essa política suicida para o país precisa blindar o governo e o sistema político, mantendo o governo Temer e o Congresso atual, promovendo alguma forma de parlamentarismo, terminando com o voto obrigatório e, principalmente, impedindo Lula de se candidatar de novo à presidência da República. É um projeto que tem avanço de forma implacável, mas que já demonstra suas debilidades. As denúncias sobre grande parte dos membros do governo e sobre o próprio Temer pairam como uma ameaça à sua continuidade e sobrevivência e convidam a novas aventuras dentro do golpe, com os riscos e a acentuação das crises de legitimidade.

A primeira derrota grave do governo na Câmara aponta para dificuldades, cada vez maiores, para seguir aprovando medidas profundamente antipopulares, como as da previdência, da reforma do ensino médio, de novas leis trabalhistas. Todos os índices econômicos são negativos, não há nenhum horizonte de recuperação, ao contrário, com a crise social se intensificando a partir do aumento ainda maior do desemprego.

Já desse ponto de vista, 2017 se anuncia como um ano de grandes lutas sociais, de instabilidade política, de riscos para a continuidade do governo golpista. Se somam a isso as iniciativas populares de lançamento da pré-candidatura de Lula. Este segundo vetor representa a força da democracia, se opõe frontalmente ao primeiro e anuncia um choque frontal entre o projeto do golpe e o da restauração democrática.

2017 não terminará como termina 2016, com a convivência de dois vetores antagônicos. Ou se impõe o golpe e se consolida a ditadura ou a democracia se afirma e projeta um 2018 com a recuperação do poder soberano do povo de eleger seus governantes.

Emir Sader
Sociólogo e cientista político brasileiro. De origem libanesa, é graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, mestre em filosofia política e doutor em ciência política por essa mesma instituição.

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