No Ceará oitocentista a maior parte da população que vivia nos sertões andava com os pés descalços. Era um hábito indígena. Com o caminhar das invasões estrangeiras, foi experimentando as alpercatas de couro e, depois, conforme as posses, as botas e os sapatos. A descrição é parte de um livro, presente de aniversário, que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) dará, no próximo dia 15, aos brasileiros. Principalmente aos forjados por essas bandas conhecida, hoje, por Nordeste.
O aniversário é da existência do Iphan nacional, desde 1937. Oitenta anos de prestação de serviços à memória, ao presente e ao que seremos como povo e cidades segundo o tempo. Aqui no Ceará, como parte das comemorações, o lançamento precioso da publicação Aquarelas & Desenhos do Ceará Oitocentista – o trabalho de José Reis Carvalho na Comissão Científica de Exploração (1859-1861).
Organizado pelos arquitetos José Ramiro Beserra, ex-superintendente do Iphan-Ceará, e Alexandre Jacó, a obra traz um retrato da província cearense pintado em mais de uma centena de trabalhos pelo artista Reis Carvalho. Além das aquarelas, pastéis, guaches, um óleo e desenhos a crayon, o leitor terá texto e comentários atualizados pelo arquiteto, professor e pesquisador Liberal de Castro.
É um livro que não pode faltar no acervo de quem investiga ou é curioso sobre a transformação do Ceará. Reis Carvalho, talvez carioca de Niterói (ainda faltam outros mergulhos em sua existência), foi um dos integrantes da “Comissão das Borboletas”.
Por ordem de dom Pedro II, Reis Carvalho veio com Francisco Freire Alemão (chefe), Guilherme Schüch de Capanema, Giacomo Raja Gabaglia e João Pedro Villa-Real observar, catalogar e descrever o que havia de modo de viver, fauna, flora, arquitetura, riquezas e possibilidades na província pouco olhada.
Olhos, pincéis e lápis de Reis Carvalho, tenente da Marinha e aluno de Debret (Jean-Baptiste, artista visual, 1768-1848) no Rio de Janeiro, registraram trechos da existência de Fortaleza e das cidades por onde a Comissão se embrenhou por quase três anos. Reis, pintor oficial da comitiva, ora era demandado ora produzia segundo sua percepção para as seções de astronomia, geografia, botânica, etnografia, mineralogia e zoologia.
Nas páginas da mais nova publicação sobre a expedição dos “Científicos” no Ceará, o ponto de vista de Reis é história. Por suas tintas, indícios do jeito de se vestir, dos traços femininos de moças e ciganas, das andanças dos soldados descalços, de vaqueiros encourados, dos animais silvestres feitos cativos, da infância, da exuberância de uma mata e de rios de pescar em covos no Semiárido...
Além disso, a arquitetura das casas, da fortificação da província, do farol e do mar (azul pelo olhar de Reis) de Fortaleza... das igrejas como a da Ribeira do Icó, das de Aracati, de Aquiraz, São Gonçalo, de moinhos... De um enterro acompanhado por uma banda de pífanos no Cariri a um “samba” ao estilo do Ceará oitocentista.
SERVIÇO
Lançamento: Aquarelas & Desenhos do Ceará oitocentista
Quando: domingo, 15
Onde: Theatro José de Alencar, às 18 horas
Entrada franca
O livro será distribuído, gratuitamente, a partir do próximo mês (fevereiro) no Iphan-Ceará. Antes do lançamento da obra, o Iphan promoverá uma caminhada pelo roteiro de bens tombados no Centro de Fortaleza. A saída será no Passeio Público, às 15 horas.
Com informações do Iphan
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