domingo, 18 de outubro de 2015

Clonagem de veículos. O misterioso caso dos nove furtos ao Detran do Ceará

A história a seguir, contada a partir de dois Boletins de Ocorrência (BOs), por pelo menos nove furtos ocorridos entre 2013 e 2014 na sede do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), na Maraponga, ajuda a entender do que se utilizam e a quem recorrem as quadrilhas de clonadores de veículos no Ceará.

Numa quinta-feira, 3 de outubro de 2013, o primeiro sumiço notado foi de 56 formulários de registro de veículos. Todos em branco. O Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) - também chamado de Documento Único de transferência (DUT) - serve para atestar a propriedade de carros, motos, caminhões. O caso parecia coisa pequena, nem houve BO na data.

Apenas quatro dias depois, dia 7, chegaram para o expediente da segunda-feira no Setor de Registro e o susto (quatro vezes) maior: dois lotes a menos de CRLVs, com 156 e 88 cédulas em cada. Dia 18 de novembro, outra segunda-feira, mais dois lotes desaparecidos: 36 cédulas em branco. E só mais dois dias depois, 20/11, outro furto de 132 formulários. O BO nº 7968/2013 foi registrado na Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos e Cargas (DRFVC) apenas na manhã de 20 de dezembro de 2013.

O mesmo servidor que assinou o BO anterior, um dos cinco que trabalham no Setor de Registro de Veículos onde aconteceram os furtos, voltou à Delegacia na tarde do dia 31 de março de 2014. Abriu um novo BO, número 2080/2014. Quatro dias antes, uma quinta-feira (27), os ladrões haviam feito o maior dos furtos, 1.200 documentos de CRLV. Em resposta ao O POVO, o Detran informa que, na mesma época, também foram registrados furtos (não diz quantos) nos postos de atendimento de Maracanaú e Pacajus.

O computador

Até hoje, ninguém sabe, ninguém viu como os 1.668 formulários foram retirados - com os casos de Maracanaú e Pacajus, a quantia furtada aumenta. Sala sem câmeras, documentos fora do cofre, mesmo com vigilantes terceirizados, e os furtos em sequência. Já são dois anos de um caso sem autoria. O inquérito do caso só foi aberto em março deste ano. Com poucos agentes e muita demanda diária de roubos e furtos de veículos e cargas, a Delegacia Especializada que funciona ao lado do Detran ainda tem pelo menos 15 vigilantes terceirizados para ouvir em depoimento e aguarda material de perícia.

Na busca pelo rastro dos ladrões do Detran, em junho deste ano, a DRFVC descobriu onde e como parte do material levado estava sendo utilizada. Ao prender Antônio Fernando Santana, o “Baiano”, 39 anos, a Polícia descobriu em sua residência pelo menos 70 cédulas de CRLV em branco. Primeiro disse que só tinha essa quantidade, mas em seu computador apreendido havia pelo menos mais 800 documentos, preenchidos ou não com dados fraudados de supostos “novos” proprietários.

Baiano “esquentava” (validava) carros roubados com os CRLVs furtados do Detran. Vendia o serviço por R$ 800 a R$ 1.000. No jargão do crime, Baiano é um estelionatário “clínico geral”. Faz de tudo. No seu notebook foram encontrados também espelhos de contas de luz, de atestados médicos, cédulas de RG e CPF, até assinatura do superintendente do Detran, Igor Ponte, para chancelar papeis fraudados.

O computador de Baiano segue sendo periciado. O equipamento tinha pelo menos quatro barreiras de senhas e instaladores de vírus para quem tentasse decifrá-lo. Para dificultar qualquer pista do(s) crime(s). Há dúvidas, inclusive, sobre o verdadeiro nome de Fernando Baiano. Havia mandados de prisão contra ele com quatro nomes diferentes.

O delegado Fernando Cavalcante, da DRFVC, admite que “podem ser sido até mais de 1.600 documentos (de CRLV), a gente não sabe com certeza. Já encontramos documentos com numeração diferente das que foram canceladas pelo Detran”. Igor Ponte disse que “todas as CRLVs furtadas foram canceladas” da Base Nacional de Dados. Mesmo assim, admitem que o estrago do furto pode ter sido mesmo maior que o detectado. O crime segue sem culpados.

Fonte: O Povo

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